Eu sou apenas uma garota do Rio ... eu sou apenas uma
brasileira. Querendo fugir ...
Acordei em meio a uma crise de labirintite hoje. Tudo roda ...
fecho os olhos e tudo roda. É o que eu costumo chamar vertigem. Já aconteceu
outras vezes, mas dessa vez veio acompanhada de um momento tão significativo
que fez com que eu me emocionasse por muitas vezes.
Eu queria acreditar como antes, as vezes me pego fazendo um
esforço terrível em ser apenas uma carioca que acredita nessa terra, nesse ar,
nessa gente. E que acima de tudo é positiva e vê que o futuro promete! Mas tem
sido cada vez mais difícil.
Nunca vivi um momento em que tantas pessoas cogitassem ou
programassem sua saída do Brasil para outros países. Em minha família tenho
ouvido isso com frequência, e olha que somos apegados uns aos outros ... mas a
vida aqui tem sido difícil de engolir. Meus amigos tem planejado também sair do país. Até para uma pessoa positiva como eu, tem estado impossível.
Hoje torço para que isso seja apenas aqui no Brasil e que o
mundo não esteja com a mesma miséria mental. É tão confuso que eu mesma chego a
me confundir e isso dá zonzeira ... isso causa uma vertigem que tem me acompanhado
nos últimos meses.
Por aqui, cada um pensa saber qual a verdade e qual o caminho certo a seguir. Mas poucos se levantam para realmente fazer algo. Não sabemos por onde começar e quando fazemos algo somos capazes de cometer atrocidades com a justiça pelas próprias mãos ... e sem o mínimo senso de valores ou bom senso. Nada faz mais sentido.
Por aqui, cada um pensa saber qual a verdade e qual o caminho certo a seguir. Mas poucos se levantam para realmente fazer algo. Não sabemos por onde começar e quando fazemos algo somos capazes de cometer atrocidades com a justiça pelas próprias mãos ... e sem o mínimo senso de valores ou bom senso. Nada faz mais sentido.
Eu já quis ficar, eu já quis mudar, eu já quis empreender,
eu já quis torcer, eu já quis defender .... e hoje confesso que está tudo
rodando. Tudo em vertigem.
Eu tinha tantos planos por aqui ... e já distribuí um Brasil
pelo mundo que não corresponde ao que vivo hoje em minha cidade. Cidade pela
qual sempre fui perdidamente apaixonada.
Amor verdadeiro não acaba e sei que o meu é infinito, mas hoje estou
decepcionada com toda a corrupção, com os preços altos, com a postura das
pessoas, com a miséria mental, com o descaso ... estou decepcionada por sermos
todos tão ridiculamente capazes de não conseguir mudar o nosso próprio mundo.
Já não sou tão romântica para acreditar que somos realmente
um modelo de sociedade, como diz Domenico De Masi em http://globotv.globo.com/globonews/roberto-davila/v/sociologo-domenico-de-masi-e-o-entrevistado-de-roberto-davila/3323350/
Alguns anos atrás eu iria corroborar esta visão. Mas agora,
uma nova Zelândia, um México e uma Orlando depois, fica difícil ser apaixonada
a ponto de ser cega. Domenico, venha passar um tempo no Brasil, aqui no Rio de
Janeiro e depois a gente conversa meu amigo. Tentarei te animar e consolar das
decepções.
Nosso julgamento atingiu o nível máximo. Estamos na merda,
mas sabemos todos olhar para qualquer atitude e ter uma opinião formada, pedras
ou flores para atirar. Uma campanha contra o racismo e temos que pensar: É válida?
É oportunista? É midiática talvez? Estão me usando? Participo? Não participo?
Alguém se aproveitou? Ou era apoio? Oportunismo ou senso de oportunidade? Uma
boa observação do momento a lançar uma provocação ou apenas uma ação
capitalista que nos enfiará algo goela abaixo? Está dificil saber o que pensar ou pra onde ir. E este é apenas UM exemplo, infelizmente temos vários.
Nada mais é simples. Sair as ruas não é simples. O mal estar
em viver em uma grande cidade tem afetado cada vez mais todas as pessoas ao meu
redor e a mim mesma. Meus vínculos me prendem aqui, mas tenho me sentido cada
vez mais livre, cada vez com mais argumentos para construir uma vida fora do
meu país. E ninguém imagina o quanto é triste dizer isso.
Me tiraram minha entrega ao esporte que mais pratiquei,
assisti, discuti e que fez parte de toda a minha infância. As zoações, a
alegria em ver um bom jogo e rir com meus amigos. Amigos do mesmo time que eu e
amigos que torcem para times rivais.
Me sinto em revolta. Contra o país, contra a situação,
contra meu dia a dia, contra mim mesma e por viver em um lugar que está tão
distante do que eu acredito.
Hoje eu sou julgada por gostar de copa do mundo e chamada de
incoerente por querer uma revolução neste país e ao mesmo tempo ter ingresso
para assistir ao Brasil e a um jogo no Maracanã. Sou julgada não por ter feito
alguma besteira ou ter prejudicado alguém. Nem tampouco pelo esporte ser
injusto, cruel ou em si mesmo algo prejudicial.
As prioridades neste país estão equivocadas, os valores
invertidos. Não se luta contra a corrupção, não se luta contra as causas e sim
contra os efeitos ou os sintomas produzidos por muitos anos de inversão, muitos
anos de desvios de caráter e de dinheiro. Hoje se acredita piamente que a Copa
é o problema e deixamos de olhar as verdadeiras causas.
Eles fazem merda e quem precisaria pagar por esta merda sou
eu: deixando de ir ao estádio, deixando de curtir levemente meu futebol.
Ouvindo por aí que é lamentável o valor que se dá ao Futebol.
Eu quero viver em um país onde eu, que amo futebol, seja tão
importante, respeitada e livre quanto alguém que acha que isso é perda de tempo
e um grande erro. Nós dois devemos ter nosso valor. E eu não quero me achar
melhor que essa pessoa e serei feliz se ela não se achar melhor que eu. E
poderemos inclusive ser grandes amigos.
Eu quero viver a liberdade de pensamento e principalmente o
respeito diário ao meu dinheiro, as coisas que eu acredito, ao meus valores.
Viver de forma a respeitar e ser respeitado.
Não acredito na política em meu país, na minha cidade. Não
acredito na mídia, nos intelectuais, já não tenho ídolos ... eles se perderam
pelo caminho.
Trago comigo a força do amor, a força que me resta e que felizmente parece ter
fonte infinita.
Um algo essencial continua a me mover. Eu não enxergo, mas me permito sentir ...
Um algo essencial continua a me mover. Eu não enxergo, mas me permito sentir ...
Hoje, para não me afastar de mim mesma, sinto que este algo
me leva pra longe daqui ....
Como bem disse Arnoldo Jabour :
“Outro nítido efeito na cabeça das pessoas é o fatalismo: "É assim mesmo, não tem jeito não". O fatalismo é a aceitação da desgraça. E vêm a desesperança e a tristeza. O Brasil está triste e envergonhado.”
“Outro nítido efeito na cabeça das pessoas é o fatalismo: "É assim mesmo, não tem jeito não". O fatalismo é a aceitação da desgraça. E vêm a desesperança e a tristeza. O Brasil está triste e envergonhado.”
Brasil, o que fizeram contigo enquanto eu romantizava? Como
foi que eu deixei isso acontecer? Estou zonza com as notícias, estou com
vertigem ao olhar meu país e minha cidade de frente. Lamentável viver tudo isso
em casa.
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