domingo, 1 de junho de 2014

[Contos de Josephine] Sobre decidir partir ... decidir ficar. Sobre decidir acordar.

Ela chegou em casa e acendeu a luz...
A casa estava em silêncio, como deveria. A mesa estava arrumada, como deveria. O sofá em ordem, como deveria. Sua mente estava fora do tom, descompassada e torpe, como não deveria.

A vida tinha pregado mais uma de suas peças e lhe apresentado mais uma encruzilhada. Seria possível? Seria justo? Até quanto pode uma mulher tomar decisões consecutivas e que tem um impacto tão grande na humanidade?

Era necessário decidir entre partir ou ficar e tudo parecia tão incrivelmente simples que Josephine desconfiou de si mesma, desconfiou de sua convicção e de tudo que tinha acreditado até então. Era possível existir algo que a tivesse tirado do prumo e de repente suas certezas não estivessem assim tão sólidas.

Foi nesse momento de luz, em que as alternativas não estavam tão claras, que ela resolveu iniciar um processo que sempre é companheiro de boas decisões: preparar um lanche. Enquanto preparava um sanduíche light de pão integral com minas e peito de peru recheado de óregano e pimenta, ela tinha tempo de simplesmente NÃO pensar, e NÃO pensar, era tudo que ela precisava para acalmar sua conturbada mente.

A conversa interna se iniciou como em todo processo meditativo:

[Josephine] - Qual a validade desse pão ... ? Eita, falta 1 dia só.
[Mente] - Vc pagou a conta de luz?
[Josephine] - Droga, que dia é hoje mesmo? Merda, a conta de luz tá vencida.
[Josephine] - Melhor lavar esse queijo ...
[Mente] - E se aquilo tudo era mentira? Convenhamos, pode ser mentira.
[Josephine] - Vou colocar mais, tô com mais fome hoje. Opa, tenho que me pesar antes desse lanche. E antes do copão de suco de caju.
[Mente] - Se engordar de novo, vai ser foda. Quantos gramas devem aumentar um sanduíche?
[Josephine] - Cala a boca, e me deixa só preparar meu sanduba e comer. Fica quieta. Eu não sou você e nós não somos Eu. Entendeu né. Shiii! Silêncio!



Ela sempre soube que a melhor forma de encontrar suas respostas era olhar pra si e criar um isolamento de si mesma, da mente, do eu e de todo o resto. Dessa forma ela se unia a um TODO, aos mosquitos, a terra, a árvore e a flor. Não ser nada, lhe dava a paz de se sentir partir de tudo, do todo.

Lá fora, os infectados. E não havia forma de distinguir uns dos outros. Partir, significava ir rumo ao desconhecido e estar sujeita a toda sorte de acontecimentos. Estar sujeita a toda sorte de mudança de planos e rumos de vida. Ficar era estar sujeita a não alcançar seus sonhos, estar sujeita a permanecer exatamente do jeito que está. E isso a aterrorizava.

Sanduíche pronto. Suco de caju para uma memória afetiva e infantil. TV ligada. Mesa arrumada. Mente após esporro.

Ela adormece após o lanche e sonha que tomou a melhor decisão. E tomou. É preciso sobreviver, e acreditar na melhor decisão é sempre uma forma de ir em frente.

Lá fora, raios e trovões. E mais decisões a serem tomadas.

Ass. Amigo de Josephine




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